quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Nasa registra aurora improvável e perdas de gases na atmosfera de Marte

Arte mostra uma tempestade solar batendo em Marte e eliminando íons da atmosfera do planeta
  • Arte mostra uma tempestade solar batendo em Marte e eliminando íons da atmosfera do planeta
A Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) divulga nesta quinta-feira (5) informações importantes sobre a atmosfera de Marte graças aos dados colhidos pela missão Maven (Mars Atmosphere and Volatile Evolution), em que sondas foram enviadas ao planeta vermelho. Em anúncio ao vivo, que está acontecendo desde às 17h (horário de Brasília), Michael Meyer, o cientista-chefe do Programa de Exploração de Marte, e o professor Bruce Jakosky, investigador do principal laboratório de física atmosférica e espacial da Universidade do Colorado, nos EUA, explicam as novas descobertas publicadas em quatro estudos na revista Sciencedesta semana.
Em um deles, Nick Schneider e colegas observaram uma aurora intensa em Marte. O primeiro registro de luminescência em Marte ocorreu em agosto de 2004, pela sonda Expresso Marte, da ESA (Agencia Espacial Europeia). Essa emissão de luz foi interpretada como aurora. Desta vez, as observações mostram um fenômeno luminescente mais intenso, fornecendo informações mais detalhadas do processo físico. "Se você perguntasse para um astrônomo se há aurora em Marte, ele responderia "provavelmente não", comenta Enos Picazzio, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG - USP).
Na verdade, diz, a teoria mostra apenas uma possibilidade remota, pois para ter aurora é preciso um campo magnético, mas Marte perdeu o seu ao longo do tempo. O professor explica que o Sol constantemente emite matéria (elétrons, prótons e íons), os chamados ventos solares. No entanto, podem ocorrer eventos súbitos, decorrentes de explosões solares, que jogam grande quantidade de plasma da coroa solar no espaço e se chocam com planetas, satélites, cometas e asteroides. Quando o vento solar se choca com a magnetosfera do planeta, produz-se um efeito luminoso conhecido como aurora. O choque em Marte foi assunto de três das análises divulgadas pela Nasa.
Na Terra esse choque é bem mais intenso nas proximidades dos polos geográficos, produzindo as auroras boreais (hemisfério Norte) e austrais (hemisfério Sul). Quanto mais intensa for a explosão solar, mais intensas são as auroras. O campo magnético da Terra é intenso porque o núcleo dela tem uma grande concentração de ferro líquido.
Já em Marte, além de essa quantidade de ferro ser menor, ele foi se resfriando ao longo do tempo, e há bilhões de anos o planeta perdeu seu campo magnético. Portanto, havia apenas uma possibilidade remota de haver auroras em Marte. Picazzio explica que essa aurora marciana, que é muito mais fraca e difusa que a terrestre, ocorre por causa da interação do magnetismo contido no vento solar e do magnetismo fóssil que restou nas rochas da crosta de Marte.

Efeito das explosões solares em Marte

Outros dois estudos avaliaram o efeito dessas explosões solares sobre a atmosfera de Marte. Justamente por não ter campo magnético, os gases na superfície do planeta sofrem mais a ação do Sol, ou seja, perde muita matéria com a passagem dessas "rajadas" provocadas pelas explosões solares. Os estudos mostram que essa perda é maior do que se imaginava.
O que se sabe atualmente sobre a atmosfera marciana é que é bem diferente da Terra, sendo composta principalmente por dióxido de carbono (95,3%) e com pequenas porções de outros gases, como nitrogênio, argônio, neon e oxigênio. 
"Isso dá indícios sobre a história de Marte e ajuda a compor a ideia de como era o planeta, que tem 4,6 bilhões de anos", diz Picazzio. Com o enfraquecimento do magnetismo marciano, a magnetosfera do planeta perdeu intensidade e a atmosfera de Marte ficou mais exposta à ação do vento solar e das "rajadas" decorrentes das explosões solares. O Sol apresenta comportamento cíclico de atividade que dura cerca de 11 anos.
 Durante esse período ele passa por épocas de calmaria e de elevada atividade, com numerosas e intensas explosões solares.
O trabalho de Laila Andersson analisou uma poeira encontrada pelas sondas a 150 mil quilômetros de altura na atmosfera do planeta vermelho. Apesar de ter a atmosfera rarefeita, - a pressão atmosférica na superfície da Terra é 90 vezes maior do que a de  Marte  - existem ventos lá. A questão era se esses ventos seriam capazes de levantar poeira tão alto. Essa poeira, segundo o estudo, é muito pequena, de 1 a 12 mícrons apenas, e move-se em grandes velocidades, mostrou a sonda da NASA. 
A análise mostrou que se trata da chamada poeira interplanetária, vinda principalmente de cometas, mas também da colisão de asteroides, entre outras fontes. "Essas informações são importantes para alimentar teorias e modelos sobre o planeta. Quanto mais informações se tem de Marte, maior será nossa compreensão sobre sua formação e sua história, assim como dos processos físicos que predominaram durante a formação e evolução do planeta. Esses conhecimentos não se restringem ao planeta em estudo, mas esclarecem fatos que marcaram a história dos demais objetos do Sistema Solar", diz o professor da USP.

Nenhum comentário:

Postar um comentário